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Duas igrejas localizadas na área comercial da cidade de Porto Sudão, no Sudão, foram alvo de vandalismo na última semana, quando inscrições de conteúdo islâmico foram pintadas em vermelho nas fachadas dos templos. De acordo com a organização britânica Christian Solidarity Worldwide (CSW), as mensagens incluíam a Shahada e trechos do Alcorão.
Os ataques atingiram a Igreja Presbiteriana Evangélica do Sudão e uma igreja ortodoxa, ambas situadas em uma região com grande circulação e próximas a repartições públicas e a uma delegacia. Imagens de câmeras de segurança registraram a ação contra o templo ortodoxo: um carro parou diante do prédio, um homem desceu com uma lata de spray, marcou o muro e saiu rapidamente.Os episódios ocorrem em meio ao agravamento da guerra civil entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF). Com a capital, Cartum, sob intensa destruição, Porto Sudão tornou-se a base administrativa das SAF e destino de milhares de deslocados, condição que sustentou a impressão de segurança relativa até o vandalismo recente.
Mesmo em uma área de grande visibilidade, não houve resposta imediata das autoridades. Para evitar a ampliação das tensões, líderes da igreja presbiteriana optaram por não registrar queixa. Integrantes da comunidade cobriram as inscrições com tinta, transformando o grafite em uma composição abstrata. Um membro da congregação classificou os ataques como “preocupantes” e alertou para o risco de normalização de atos de intolerância.O diretor-executivo da CSW, Scot Bower, cobrou investigação das autoridades sudanesas e destacou que a hostilidade contra cristãos no norte do país tem aumentado durante o conflito. Segundo ele, comunidades das Montanhas Nuba enfrentam detenções arbitrárias e julgamentos de emergência que já resultaram em penas de morte.
A crise humanitária no Sudão também se agrava. Em setembro, forças de segurança destruíram abrigos improvisados em Atbara, no estado do Nilo, forçando deslocados a retornar a Cartum, ainda considerada uma zona insegura. O país atravessa hoje sua pior crise recente, com cerca de 12 milhões de pessoas deslocadas e 30 milhões necessitando de assistência.
A violência ganhou repercussão internacional em outubro, quando o evangelista Franklin Graham denunciou execuções atribuídas à RSF após a tomada de el-Fasher, em Darfur. A BBC confirmou imagens que mostram combatentes executando prisioneiros desarmados em instalações universitárias e em áreas rurais.
A RSF, comandada por Mohammed Hamdan Dagalo (Hemedti), tem origem na milícia Janjaweed, envolvida em massacres em Darfur nos anos 2000. O grupo, estimado em cerca de 100 mil combatentes, ampliou seu poder com apoio de países como Emirados Árabes Unidos, Turquia e Rússia, além de receitas provenientes do ouro. As SAF apresentaram recentemente ao Tribunal Internacional de Justiça uma queixa acusando os Emirados de violar a Convenção do Genocídio, alegações rejeitadas por Abu Dhabi.
Após a queda de Omar al-Bashir, em 2019, Hemedti ganhou influência política e participou do golpe que desestabilizou o governo de transição. O rompimento com o chefe do Exército, Abdel-Fattah Burhan, desencadeou o conflito atual. No terreno, a RSF mantém controle de grande parte de Darfur e áreas de Kordofan, e já indicou intenção de formar uma administração paralela nos territórios sob seu domínio. Com informações The Christian Post



