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Durante muito tempo, a ideia de manter-se virgem até o casamento foi tratada nas igrejas evangélicas com solenidade. Hoje, o sexo antes de casar parece ter desaparecido das pregações de algumas igrejas, das conversas de grupos de jovens e dos espaços de discipulado. A cultura popular, com seu discurso libertário e relativista, contribuiu para esse silenciamento.
Mas não foi só isso. Entre líderes receosos de parecerem ultrapassados e jovens sobrecarregados pela vergonha ou confusão, o tema da castidade foi ficando de lado, embora continue presente nas Escrituras e no coração de muitos que tentam viver à luz da fé.A pastora Patrícia Andrade, da Comunidade Evangélica Projeto de Deus, no Rio de Janeiro/RJ, observa que a mudança não é apenas geracional, mas estrutural. “Infelizmente, estamos vivendo tempos em que os valores do Reino de Deus estão sendo trocados por aquilo que o mundo diz ser normal”, afirma. Para ela, o silêncio não significa amadurecimento ou equilíbrio, mas omissão.
“Muitos líderes têm medo de parecerem ‘retrógrados’ ou ‘religiosos demais’ e preferem evitar confrontar seus jovens com a verdade. Mas a Bíblia não muda”. Patrícia faz referência a Hebreus 13.4, que afirma: “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula”.
Na prática, a castidade é muitas vezes percebida como um peso imposto às mulheres, enquanto os homens parecem ter maior margem de tolerância diante do mesmo comportamento. Patrícia critica essa distorção.
“Por muito tempo, cobraram mais das moças do que dos rapazes, como se o pecado deles fosse ‘menos grave’. Isso não é bíblico”, reflete. Para ela, a pureza sexual é um chamado à santidade que se aplica igualmente a homens e mulheres. “Pureza sexual não é só sobre o corpo, é uma decisão do coração. A santidade é para homens e mulheres”, afirma a pastora.
Na primeira carta aos Tessalonicenses, capítulo 4, Paulo exorta os cristãos a se absterem da imoralidade sexual, reafirmando o desejo de Deus pela santificação do corpo. O princípio permanece atual, embora o modo de comunicá-lo precise ser contextualizado com cuidado, sensibilidade e firmeza pastoral.
O silêncio de algumas igrejas em relação à castidade também afeta profundamente quem viveu experiências sexuais antes da conversão. Para Patrícia, é essencial que a igreja ensine o arrependimento sem transformar a restauração em um processo punitivo. “A cruz de Cristo é suficiente para perdoar todo pecado. Quando alguém se arrepende genuinamente e entrega sua vida a Jesus, tudo se faz novo”, diz, citando 2 Coríntios 5.17.
Ela defende uma abordagem que una graça e verdade, sem cair no legalismo ou na permissividade. “O arrependimento precisa ser ensinado como algo transformador, e não como uma condenação. Quando tratamos esse tema com misericórdia, verdade e sensibilidade, o Espírito Santo convence, e não humilha”, explica.Esse equilíbrio permite que a igreja se torne um ambiente de cura, e não de exclusão. Um espaço onde jovens, homens e mulheres, possam expressar dúvidas e feridas sem receio de julgamento, e onde a Palavra de Deus continua sendo a bússola.
No ministério liderado por Patrícia, o tema da santidade sexual é abordado com franqueza e empatia. “Temos encontros específicos com os jovens, onde falamos de santidade, identidade e propósito”. Ela afirma que, quando o espaço é seguro, os jovens respondem com sinceridade. “Muitos choram, confessam, pedem ajuda. O problema é quando a igreja ignora o assunto e os jovens aprendem sobre sexo pela internet, séries e amigos, e não pela Bíblia”, relata.
A pastora lembra que o discipulado próximo, com referências espirituais consistentes, ainda é o caminho mais eficaz para orientar a juventude. Ela recomenda que jovens cristãos firmem-se na Palavra e busquem relações saudáveis e ambientes que alimentem a fé. “Estabeleçam limites nos relacionamentos. Beijos quentes, toques provocativos, dormir juntos ‘sem fazer nada’, tudo isso é terreno escorregadio”, ensina Patrícia.
O ensino da pureza precisa ser equilibrado também no púlpito. Quando líderes de ambos os sexos compartilham experiências reais, o tema ganha relevância e se torna mais acessível. “Moças precisam ouvir mulheres de Deus que já passaram por essas lutas e venceram. Rapazes precisam ouvir homens santos, que não têm vergonha de dizer: ‘eu escolhi esperar’”, explica Patrícia. Ela lembra a recomendação bíblica de Tito 2, onde os mais velhos são chamados a ensinar os mais novos.Ao contrário do que muitos pensam, falar de castidade não é regressar a um moralismo sem alma. É relembrar, com humildade e amor, que o corpo também é lugar de adoração. A espiritualidade cristã não separa fé e sexualidade, ela os integra com responsabilidade e reverência.
Mesmo diante das pressões culturais, jovens cristãos continuam buscando respostas sobre como viver de forma íntegra e coerente com sua fé. Escolher casar virgem talvez não seja mais uma norma silenciosa entre os crentes, mas continua sendo uma possibilidade de testemunho profundo. E, mais do que isso, continua sendo uma expressão de amor ao Deus que deseja santidade em todas as áreas da vida.
Segundo relembra a pastora, se a igreja deseja permanecer relevante para as novas gerações, precisará voltar a falar, com graça, coragem e verdade, sobre aquilo que ainda importa.