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Você pode estar obedecendo todas as regras e ainda assim não viver segundo o Reino. Essa é a tensão que atravessa o ensinamento de Jesus e continua a incomodar quem busca uma fé coerente. Porque o problema não está apenas no que se faz, mas no que se deseja fazer. A verdadeira batalha, diz a missionária Carmozina Joyce, não se trava no exterior, mas “no campo da mente”.
É ali que, segundo ela, pensamentos, intenções e afetos se embaralham e se revelam. E é ali que começa, ou fracassa, o processo de transformação espiritual.Jesus foi direto quando, no Sermão do Monte, afirmou que o adultério acontece no coração antes de qualquer ato físico (Mateus 5:28). Ele não estava sendo simbólico, de acordo com a missionária, mas revelando o centro da ética do Reino, a mente como origem do agir. Para Carmozina, o foco de Cristo sempre foi o que precede os gestos. “Ele está falando de lei mental, e a gente ignora isso”, alerta.
Essa perspectiva confronta a tendência religiosa de focar no comportamento visível. Mas para quem deseja viver em Cristo, a mente precisa passar por um realinhamento, não apenas racional, mas espiritual. “O que te move é o que te contamina ou te purifica”, ensina ela.
A transformação interior, segundo Carmozina, passa por três movimentos:
Reconhecer que tudo começa na mente.
Não há neutralidade: pensamentos alimentados se tornam decisões. Negá-los é inútil. Discernir é essencial.
Identificar o pensamento sem se confundir com ele.
“Pensar a gente pensa”, diz a missionária, mas nem todo pensamento precisa se enraizar. A mente cristã aprende a separar o impulso da permissão.Redirecionar.
Não se trata de reprimir, mas de mudar a direção. “Você vai ver uma mulher de cropped e vai pensar: Jesus morreu por ela também”. O foco deixa de ser o julgamento para ser a compaixão.
Essa prática diária é mais do que disciplina, é discipulado, segundo Carmozina. Exige atenção e graça, porque o Reino não se estabelece por convenções externas, mas por corações transformados.Metanoia: quando o arrependimento vira caminho
Essa mudança de mentalidade tem um nome bíblico, chama-se metanoia. Mais do que remorso ou mudança de opinião, trata-se de uma reorientação completa do pensamento. “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente”, enfatizou o apóstolo Paulo em Romanos 12:2.
O conceito ecoa até na psicologia, onde metanoia é uma virada profunda de identidade após uma crise. Mas na espiritualidade cristã, essa virada pode acontecer antes do colapso, como uma escolha diária de se alinhar ao padrão de amor e verdade de Jesus.
A mente, como qualquer sistema complexo, precisa de um padrão confiável para funcionar. “É como um pote térmico caro: se você não usar como diz o manual, não vai prestar”, compara Carmozina. A Bíblia cumpre esse papel, não como regra moral externa, mas como orientação de pensamento e desejo.
Na criação de filhos, isso se torna visível, explica a missionária. Não basta que obedeçam as regras. Eles precisam aprender a pensar biblicamente. E para isso, os pais também precisam viver esse processo de renovação mental. Um lar onde se filtra o pensamento é um ambiente de paz, ainda que haja conflitos.
Carmozina conclui explicando que a espiritualidade que começa na mente não se resume ao interior. Ela se espalha pelos gestos, pelas palavras, pelos relacionamentos. O olhar crítico se converte em compaixão. A fala se torna mais respeitosa. As decisões ganham sabedoria. É como se o invisível sustentasse o visível.
No fim, a transformação que Jesus propõe é constante. Começa onde ninguém vê, mas molda tudo o que se vê. A renovação é o exercício mais concreto do cristão que quer viver de verdade.