A Espanha é um dos 10 países europeus, entre 36 dos analisados globalmente pelo Pew Research Center, recentemente, a perder a força da identidade cristã. A nação se destaca por mais pessoas afirmarem ter deixado de se identificar como cristãs. Embora 87% dos entrevistados tenham sido criados no Cristianismo, 36% agora disseram ter abandonado essa fé.

Os dados também mostram que, embora apenas 10% dos espanhóis tenham nascido em famílias sem religião, atualmente 44% se consideram pessoas sem religião. Nenhum outro país experimentou um declínio tão acentuado do Cristianismo nominal quanto à Espanha.A Espanha se destaca ainda como um dos países onde a maior proporção de pessoas criadas sem religião se converteu ao Cristianismo (16%). Isso sugere que, apesar da Espanha ter registrado o maior declínio, ainda apresenta um número significativo de conversões ao Cristianismo.

O pastor Fábio Diniz, da Comunidad Cristiana Libre Acceso em Madri, pontua que a realidade enfrentada na Espanha também é observada, de maneira geral, em toda a Europa. No entanto, em território espanhol, há questões específicas, diz ele, como a ideia equivocada de que a ciência é contra Deus e a Bíblia, além da visão de que a única igreja cristã válida é a católica. Isso levou a uma associação entre o Senhor e a política, uma vez que o catolicismo apoiou a ditadura no país.

Diniz também menciona o falso sentimento de liberdade, no qual o cristianismo é visto como inimigo, pois seguir a Cristo exige um ato de autonegação. “O espanhol tem um ‘ar’ de superioridade. Então, quando um latino tenta evangelizá-lo, o pensamento é: ‘nós que trouxemos Deus para vocês, e agora querem vir nos falar sobre isso’.” Para o pastor Fábio, a igreja precisa se relacionar com os espanhóis, compreender a cultura e a ciência local, e mostrar que a fé em Deus também pode ser sustentada por argumentos científicos e lógicos. “O primeiro passo deve ser o relacionamento, a amizade pessoal, para que eles possam ouvir.”

Nesse contexto, ele avalia que o maior desafio da igreja é investir tempo na evangelização dos espanhóis, a fim de apresentar o amor de Cristo. Na Espanha e na Europa, de forma geral, revela o pastor Fábio, há uma escassez de missionários, pois o foco tradicionalmente recai sobre países com maiores necessidades básicas, como os da África ou os países do Oriente Médio, que são realmente importantes. “No entanto, a Europa vive um cenário pós-cristão e também precisa muito dessa presença missionária.”

Nova estratégia

Durante sete anos envolvido com a obra na Espanha até 2023, o pastor batista Nildo Oliveira compartilha que, para os espanhóis, a Igreja Evangélica é frequentemente vista como uma seita, e o Evangelho não teve um crescimento significativo ao longo do tempo. “Não houve um abandono da fé na Espanha. O que aconteceu é que o Evangelho não se espalhou e não alcançou a mesma proporção que em outros países da Europa.”

Diante desse cenário, ele acredita que a igreja precisa se aprofundar no conhecimento da Espanha e dos espanhóis, o que inclui entender o idioma, a cultura e a história do país, para poder conquistá-los para Cristo. “É necessário caminhar ao lado deles, ganhar a confiança e investir tempo.” Atualmente, segundo o pastor, a maioria das igrejas evangélicas atinge principalmente imigrantes latinos, e não a população local. Como resultado, as comunidades de fé não crescem entre os espanhóis.

Por fim, o pastor sublinha ser essencial que a igreja abandone o etnocentrismo e comece a enxergar o Evangelho sob a perspectiva europeia, para abarcar verdadeiramente os espanhóis. No entanto, Oliveira comenta que isso ainda está distante, pois tem muita dificuldade em abrir mão de uma teologia voltada para si mesma. “É preciso aprender com a cultura local, entender a forma de pensar e viver deles, para que possamos tocar seus corações.”

07/04/2025 – Net 3 Gospel